30.3.06

Numa semana que não tive tempo de ir ao cinema ou à locadora, algumas notas para não deixar o blog parado...

Amanhã o 'Raros' vai nos dar a rara oportunidade de ver Buster Keaton em tela grande... vai passar 'Marinheiro por descuido', conhecido originalmente como Steamboat Bill Jr, um dos melhores filmes deste mestre da comédia muda... completando o programa duplo, 'Film', de Samuel Beckett. Meu segundo filme de Keaton no cinema (o primeiro foi 'O Homem das Novidades'), que emoção...

Uma semana com gente talentosa embarcando para o andar de cima... Dan Curtis, o homem que leu um conto que ninguém quis publicar de Jeff Rice e transformou seu personagem principal, Karl Kolchak, num dos mais notáveis do gênero, e ainda criou uma das melhores adaptações de 'Dracula' para a tela grande, com Jack Palance (saiu em DVD pela London, comprei o meu por R$ 10,00, vão atrás que vocês acham!!!), juntou-se ao próprio Kolchak (Darren McGavin), que acabou de fazer sua travessia também... Eloy de la Iglesia, cinesta cult espanhol, responsável pelo notável 'Cannibal Man' (cujo título espanhol original, 'La Semana del Asesino', faz mais justiça ao filme) e o sensacional 'Clockwork Terror' (em espanhol, 'Una gota de sangre para morir amando'), variação/sátira de 'Laranja Mecânica com a lindíssima Sue Lyon (a Lolita de Kubrick) abrilhantando a tela, passou para o outro lado na mesa de operação, aos 62 anos... e um de meus heróis, Stanislaw Lem, autor de um dos mais impressionantes livros de ficção científica já feitos, 'Solaris', filmado duas vezes (uma brilhantemente, a outra desnecessariamente, adivinhem qual é qual entre a versão de Tarkovski e a de Sondenbergh...)... que posso dizer? Descansem em paz, vocês me deram horas agradabilíssimas, tornaram minha vida melhor.

Que essa nostalgia anime as editoras a fazer uma tradução decente de 'Solaris' em português... tudo que existe são traduções da versão em francês, ninguém traduziu o livro direto do polonês (lingua que o livro foi escrito)... tive que lê-lo em espanhol (uma edição argentina) para descobrir que não era o livro que era travado, cheio de palavras complicadas e frases inintelegíveis, era a tradução que tornava o livro assim.

Que coisa linda é o DVD de 'A Mosca'... duplo, com comentário e simpáticas 3 horas de documentários. Um dos filmes da minha adolescência, em uma edição que dificilmente será melhorada. Ainda por cima saiu nacional, pude comprar a R$ 35,00, tem legenda em todos os extras... coisa boa.

Bom, isso é tudo, para uma semana que só trabalhei. Reclamar que se está trabalhando demais sempre é melhor que reclamar que se está parado, mas que cansa, isso cansa... o bom é que amanhã é sexta-feira, último dia de trabalho da semana... sono, filmes, livros, descanso (e o time com risco de fazer fiasco contra o maior rival, só prá incomodar). Coisa boa. Nos vemos.

26.3.06

O DIA DOS ESPÍRITOS


Uma das coisas boas do 'estouro' de 'O Chamado' é que possibilitou o lançamento de várias produções do Oriente que, de outra forma, provavelmente não seriam vistas por nós... afinal, o 'boom' do cinema oriental de horror não começou com a versão oriental de 'O Chamado', e sim com os filmes de Kiyoshi Kurosawa, no início dos anos 90... e o bom é que estamos vendo filmes bem direrentes uns dos outros, não trinta variações com telefonemas, poços e meninas chamadas Sadako.

'Espíritos' é uma produção tailandesa... eu 'conhecia' a Tailândia de outros filmes orientais, como o sensacional 'A Herança' e o mais underground 'The Eternal Evil of Asia', como uma espécie de Transilvânia da Ásia, terra de superstições, bruxarias e macumbas. Aqui, a 'visão local' desmente essa teoria. Comprova também uma tese de Pete Tombs, que se conhece mais uma região pelos filmes de gênero feitos por lá do que pelos artísticos, que tendem a seguir o padrão nouvellevaguiano.

Trata-se de mais uma história de fantasmas (obcessão da cultura budista local)... para ser mais específico, de um encosto (não vou entregar nada da história do filme, mas eu fico com medo de algum pastor da Igreja Universal ver o filme e dizer que resolvia a história com uma sessão de descarrego). Resumindo (até demais), o fantasma de uma mulher começa a aparecer em algumas fotos tiradas por um fotógrafo profissional, e ele resolve investigar, com a ajuda da namorada, quem é essa mulher que está tão interessada se mostrar para ele, o que ela pode ter aprontado que tanto a marcou. Digamos que as descobertas não são nada generosas com ele...

Não se trata de uma produção perfeita... achei o terceiro ato um pouco estabanado, com informações demais. Também achei (assim como o Aguilar) que há um pouco de ênfase demais nas relação dos dois personagens principais... mas, vejam só, que raridade reclamar que um filme tem roteiro demais hoje em dia, o normal tem sido reclamar de filmes com roteiro de menos. Isso não diminui o impacto de 'Os Espíritos': poucos filmes nos últimos tempos deixaram tantas imagens e cenas grudadas em minha cabeça. Há momentos simplesmente tétricos. As pessoas que estavam no cinema comigo parecem concordar:há muito tempo eu não via tantos gritos e reações nervosas das meninas da platéia. Todo mundo começou dando risada, achando engraçada a língua (que soa, para meus ouvidos pouco educados ao tailandês, como se fosse um tátátátátá incessante), com os nomes (um rapaz na minha frente, levado à força pela namorada, se deliciou com o nome de dois personagens do filme, Tum e Tom) e com o tom de voz anasalado da protagonista (que soa esquisito mesmo). Foi só a fantasma começar a aparecer, e as fotos (reais) de fantasmas serem mostradas, que o gritedo começou. Uma cena em especial foi impressionante: envolve um estúdio fotográfico, luzes apagadas e um flash. Eu contei umas seis meninas, em pontos diferentes do cinema, berrando. Mesmo os marmanjos ficaram super nervosos. Posso me enganar, mas não via essa reação de platéia há um bom tempo.

Há alguns anos, as produções de mercados secundários se caracterizavam por um nível técnico abaixo da crítica. Isso não ocorre mais. Toda a parte técnica de 'Espíritos' é louvável, em especial a fotografia. Tudo foi captado em filme asa 400, aquele que tem sido usado por Steven Spielberg (e o 'garoto propaganda' desse tipo de película, Janusz Kaminski) desde 'O Resgate do Soldado Ryan'. Esse tipo de película é mais realista, mas tem pouco contraste (ao contrário da película 'normal'), deixando a imagem granulada. Isso é utilizado de forma exemplar pelo cinematografista. Os pretos, além de escuros, parecem se desmanchar. Toda a textura do filme é assim. De acordo com a nem sempre confiável IMDB, trata-se de uma estréia dos dois diretores creditados. Se for isso mesmo, é impressionante o que eles conseguiram. Trata-de de uma obra segura, com ótima direção de atores, um clima realista (que nem sempre funciona em obras do gênero) e um bicho-papão dos mais assustadores dos últimos anos. Mesmo com as ressalvas que fiz, é uma obra ultra recomendável. Vamos ver se as revisões (que vão ocorrer, sem dúvida) vão ser generosas com essa obra...


22.3.06

DISQUE M


A Luciane me surpreendeu um dia desses, me dizendo que tinha gostado mais de 'Um crime perfeito' que de 'Disque M para Matar'. Como esse mau gosto não combina com ela (é algo como preferir uísque paraguaio ao escocês), loquei o filme de novo para ela reconsiderar... na primeira cena já descobrimos que ela havia visto apenas a refilmagem, com Angie Dickinson e Christopher Plummer. Ah bom.
O prazer de rever um filme desses é perceber como Hitch consegue demonstrar sua classe, mesmo num filme minimalista, sem espaço para malabarismos de câmera. Há, logo no início, um belo uso de psicologia das cores. Grace Kelly de branco, beijando o marido, e de vermelho, com o amante... nada mal. Belo filme. Teatro filmado só fica legal quando extremamente bem feito, o que é o caso aqui.

ANJOS DA NOITE 2

Eu não ia ver esse filme, pois não curti o primeiro... daí o Cristian elogiou tanto que eu fui. Sabe que é legal? Vai direto prá ação, sem grandes frescuras (como no primeiro filme, que perde horas em discussões políticas/errepegísticas sobre convivência entre vampiros e lobisomens), tem bastante sangreira e, ta na na nam, Kathy Beckinsale tira aquela roupa preta apertada que lhe cai tão bem. Foram duas horas que eu não pensei que estou trabalhando demais, que meu Grêmio está mal... longe de ser uma obra-prima, mas que é um belo filme de ação, isso é. E cita um filme que eu adoro, vamos ver se algum dos meus cinco leitores reconhece... o pau comendo dentro de um cinema e cai um helicóptero... lembra alguma coisa?

Amanhã escrevo alguma coisa mais profunda, hoje estou na corrida...


15.3.06

ZUMBIS NO RAROS

É a segunda sessão de horror no ano no Raros, mas a primeira depois da 'retomada' (a arrumação do ar condicionado), logo é como se fosse a estréia do ano.

Nesta sexta-feira, dia 17 de março, exibiremos o filme 'Eu andei com um zumbi', de Jacques Torneur, um dos nove produzidos por Val Lewton para a RKO nos anos 40. Os filmes de Lewton destacam-se, dentro do 'nosso' gênero, por características nem sempre associadas ao mesmo: inteligência, leveza, comedimento. Muito bem escritos, extremamente bem atuados, são modelos para todos que tentaram fazer horror psicológico depois deles, assim como para quem quis fazer cinema de gênero com pouco (ou nenhum) dinheiro e ainda se safar com isso. O filme passará com legendas em espanhol, com direito a um debate comigo no final. Um programa melhor que ficar em casa vendo novela (ou Big Brother), sem dúvida... 9 da noite, na sala PF Gastal da Usina do Gasômetro. Todos que estiverem na área estão convidados.

10.3.06

COMENTÁRIO QUE VALE O DVD


Recentemente, numa troca de DVDs com um amigo gringo, recebo no meio do que eu havia combinado o DVD do filme Jack-O, de um certo Steven Latshaw, que eu nunca havia ouvido falar... pergunto para meu amigo se aquilo é presente, ou se eu havia feito algum rolo a mais e tinha esquecido... sim, era presente. Com uma recomendação: veja o filme com o comentário...
Como eu andava meio sem tempo, fui deixando passar... e agora em minha semana de férias fui dar uma olhada. Em minhas pesquisas, o filme só era notório por usar cenas com John Carradine e Cameron Mitchell que estavam no arquivo de seu produtor executivo, Fred Olen Ray, para alguma eventualidade... o cabra nunca mais tinha feito nada (que aparecesse)... vamos ver.

Realmente, o comentário vale o filme. É o mais doido que eu ouvi em ANOS. Eu já havia ouvido comentários confrontativos (como o de Steven Sondebergh com o roteirista de 'O Estranho - The Limey', que o cara fica o tempo inteiro reclamando de cenas que foram cortadas e substituídas por videoclipes, ou em 'A Soma de Todos os Medos', em que o autor do livro fica detonando as inúmeras mudanças que o diretor fez em seu livro), mas nada parecido com isso aqui. Os debatedores são os já citados Fred Olen Ray, produtor executivo (e dono da empresa responsável pelo lançamento, Retromedia Entertainment), e o diretor, Steven Latshaw. Tudo começa relativamente calmo, todos são amiguinhos, mas desde o início Fred fica cutucando o cabra, rindo dos (inúmeros) defeitos de Jack-O (como ele faz em seus próprios filmes). Com o tempo, mr. Latshaw vai se irritando, e começa a devolver os cutucões que recebe, se defendendo cada vez que um erro de continuidade é exposto, quando um ator faz uma canastrice. E vai ficando cada vez mais mal-humorado, reclamando do suposto detalhismo de Olen Ray (evoca até a 'suspensão da descrença', tão defendida por Ed Wood). Até que, mais ou menos a uma hora de projeção, ele literalmente explode. Olen Ray comenta que um adolescente que recentemente viu o filme com ele chamou o mesmo de 'um saco de merda' (em inglês o termo usado é 'shit pickle'), e Latshaw perde de vez a paciência e a compostura. FUCK YOU, YOU ASSHOLE!!!!! Um chinga abertamente o outro!!!Sons de socos!!! O cabra é arrancado do estúdio pela turma do 'deixa disso' e fica tentando entrar na marra, dando chutes e discutindo com o segurança, até o fim da sessão!!! Em resumo, o troço vira um belo dum barraco, teoricamente encerrando uma amizade de 20 anos. Nada mal para uma terça-feira de manhã, que eu estava vendo o filme com dois cachorros, na sala da casa dos meus pais.

Pesquisando e perguntando, eu descubro que na verdade essa briga foi combinada, e que os dois se amam mutuamente. Ia ser demais mesmo o cara fazer uma bomba dessas e achar que era uma reencarnação do Orson Welles, que seu 'rebento' devia ser levado a sério como, digamos, 'Cidadão Kane'. Ia evidenciar uma imensa falta de simancol. Uma pena. Mas que eu me diverti ouvindo isso inocentemente, sem saber da combinação, isso eu me diverti;-)))


8.3.06

DEMÔNIOS RESTAURADOS


Um dos mais importantes filmes do século passado foi restaurado para uma versão que tudo indica será a definitiva, e tudo indica que esse trabalho tão importante permanecerá inédito em video e DVD por um boooom tempo...

Estou falando, é claro, de Os Demônios, obra-prima de Ken Russel, um dos filmes definitivos sobre inquisição, poder e relação da igreja com o estado. O contrário de nossos blockbusters, filmes feitos para agradar a todos e dar mensagem positiva. Um dos filmes mais poderosos e controversos já criados.

Resumindo a história do filme, acontece o seguinte. Um padre opçõe-se à destruição de um muro que defende a sua cidade. Para que isso seja possível, a igreja, em conluio com o rei, manda um inquisidor para a cidade, para estudar o que está ocorrendo com uma freira que diz estar tendo visões. É claro que se chega à conclusão que estão havendo possessões demoníacas na cidade, e que o responsável é o padre que se opõe ao poder central da igreja...

Para explicar os percalços dessa restauração, é interessante um pouco de história. A versão original, tal como foi criada por Russel, foi discutida quase cena a com o censor britânico da época, que fez pequenos cortes no resto do filme mas exigiu apenas que uma cena fosse cortada integralmente, o estupro de cristo. Nessa cena, que se passava em meio à orgia para purificar a alma das freiras, elas deixavam um crucifixo no chão e, digamos, faziam atos lascivos com ele. A versão original britânica do filme tinha, então, 111 minutos.

O filme foi lançado em duas versões nos Estados Unidos. Uma, na época de lançamento, x-rated, com três minutos de cortes adicionais em relação à versão britânica, retirando todas as cenas em que apareciam pelos pubianos. Tinha, então, 108 minutos. Alguns anos depois, uma versão R-Rated substituiu a outra em circulação, cortando mais alguns minutos. Essa é a versão disponível em vídeo nos EUA e em quase todo o mundo. Além de atorar o frame original de panavision (2.35 por 1) para fullscreen, essa versão, única disponível para o consumidor normal, tem 103 minutos.

Por anos só tivemos essa opção... até que, no início dos anos 90, em uma sessão chamada Forbidden Weekend, a BBC exibiu a versão original do filme, a mesma que passou nos cinemas britânicos. Corrigindo as idissioncrasias do sistema PAL, essa tinha 111 minutos. Esperou-se a restauração em video, mas essa não ocorreu. Mesmo na Inglaterra a versão disponível continuou sendo a abortiva versão americana R-Rated. A Warner não quis comprar a briga com a censura, nem com sua política de não lançar material pornográfico (por isso que continuamos sem uma versão em DVD de Os Deuses Malditos, de Visconti), nem burlar essa lei, como eles fizerma com Performance de David Cammel (lançado em video completo, mas com indicações como se fosse a versão cortada).

Tudo acabou? Não. Em 2005, a mesma BBC exibe a RESTAURAÇÃO. Bancada pelo jornalista Mark Kermode, o mesmo responsável por serviço similar em O Exorcista. Após anos fuçando nos arquivos da Warner britânica, ele descobriu a versão original, a que Ken Russel exibiu para James Treveillan, censor britânico (que por sinal se demitiu após liberar Os Demônios para a Inglaterra). Produziu o sensacional documentário Hell on Earth, sobre a dança das versões alternativas de Os Demônios (de onde eu tirei os dados que compõe essa matéria) e a localização desta versão inédita, o que surpreendeu até Ken Russel, que dava o filme que ele projetou como perdido. A versão exibida na BBC tem inacreditáveis 114 minutos.

Lançamento em grande escala? Nem pensar. A versão longa foi exibida na BBC, em alguns festivais na Inglaterra, e nada mais. O filme continua inédito em DVD, disponível para o público comum só em VHS, num transfer que está fazendo 20 anos. com nada discretos 11 minutos cortados. Mas, para quem se interessar, os sites de download tem essa versão longa do filme, inclusive com o documentário. Normalmente não sou muito a favor de baixar filmes(como se dizia nos lupamares do interior, quem trabalha tem que receber), mas em casos especiais como essa não tem alternativa. Prometo que assim que sair o DVD com a restauração em compro o mesmo. Todos os canais normais já foram tentados, abaixo-assinados, pedidos, e-mails com desaforos e elogios... vamos ver se pelos canais anormais conseguimos alguma coisa.


5.3.06

TORRENTE

Os dois gêneros que mais perdem com a onda politicamente correta que toma conta do mundo são o horror e a comédia. O horror por funcionar melhor no limite, sempre descobrindo áreas que afetam o espectador (não por acaso seu último ápice foi durante os anos 70, quando ainda era viável lançar produções sem necessidade de ), e a comédia pela necessidade de atacar para todos os lados, sem as limitações impostas pelo suposto bom gosto imposto pelo politicamente correto. Não por acaso, as últimas comédias lançadas por aqui estão sendo uma pior que a outra, parecendo sketches alongados de programas de humor de televisão. Tem suas exceções, claro (eu vi O Virgem de 40 anos e adorei),mas o resto está cada vez mais próximo do inassistível.
Faço essa introdução chata para situar as comédias mais engraçadas que vi nos últimos anos. Torrente, o Braço Torto da Lei, e Torrente 2 Missão Marbella ignoram lindamente o politicamente correto. São comédias grossas, fazendo pouco com minorias, debochando de anões, com personagens principais tomando drogas e não sendo punidos por isso...
Torrente, o primeiro (que foi exibido no Canal Fox algumas vezes) trata da rotina de Torrente, policial aposentado, trambiqueiro e mau caráter. Em 10 minutos de filme descobrimos que ele faz o pai pedir esmolas no metrô de madri... e daí por diante tudo vai piorando. Ele achaca traficantes para conseguir drogas, cobra para fazer treinamento com um coitado do vizinho(Javier Cámara, que foi fazer Fale com Ela com Almodovar depois de ser revelado aqui), tem amigos pouquíssimo recomendáveis no submundo... tudo isso para coroar a inacreditável caracterização do escritor-produtor-ator principal Santiago Segura no papel principal. Gordo, suado, cafajeste, fazendo uma metáfora mais grossa que a outra sobre seu órgão sexual, ele vai se superando cena a cena.
Já a (primeira) continuação... apesar de ter gasto mais dinheiro que a primeira e ter valores melhores de produção, é a mesma coisa. Em cinco minutos Torrente perde todo o dinheiro que arrecadou no primeiro filme, de forma estúpida, como sempre, e se estabelece como detetive em Marbella. Em sua primeira missão, ele tem que descobrir se uma mulher é fiel ao seu marido. Descobre que ela é prostituta. Achaca ela, faz ela limpar sua espada (estes são os termos que ele usa) e, depois de receber o dinheiro, ainda elogia suas habilidades ao marido. O mesmo tem um ataque cardíaco na rua, e ele se preocupa em... tirar todo o dinheiro que o velho tem no bolso. Esse é Torrente!!!!! Isso em dez minutos de um filme de 100!!! Hilárias as participações de Carlos Moya, tenista, e a chocante descoberta do verdadeiro pai de Torrente, que é traficante.

Estou tendo essa onda de nostalgia sobre o personagem por estar em Livramento, visitando meus pais, e ter visto na locadora de Rivera o cartaz de Torrente 3, o Protetor, entre as próximas atrações. Já se tornou um dos meus filmes mais esperados do ano!!!


ESCURIDÃO

Eu já havia me resignado em ver esse filme tão elogiado pelo Aguilar e pelo Carrard em vídeo quando o mesmo entrou em cartaz de novo num cinema do centro de Porto Alegre. Fui ver agora no Carnaval. Se não é a obra-prima descrita pelo Aguilar, é uma produção nota 9. Lindamente complexa, fazendo belíssimo uso de locações e lendas irlandesas, e tendo meu novo amor Maria Bello no papel principal (uma pena que ela fica vestida o tempo inteiro) (eu achei essa mulher tão linda em Uma História de Violência que estou pensando em ver Coyote Ugly, de Bruckenheimer, só para vê-la melhor), perde um ponto por ter um personagem um pouco inspirado demais em Sadako(Samara) de O Chamado. Mas o filme é eficientíssimo em usar esses clichês, e originalíssimo em combiná-lo com outros elementos. Um filme desses é tão bom quanto seu final (apesar de eu perdoar, por exemplo, uma obra-prima como O Sétimo Portal, de Roman Polanski, do percado de terminar terrivalmente mal), e aqui temos um final quase ao estilo Retorno ao Planeta dos Macacos (quem viu vai lembrar, é o meu paradigma de final apocalíptico). Em resumo, um filme sério, tenso e bom prá cacete, prova que provavelmente ninguém ouviu os conselhos dados pelo produtor Paul WS Anderson.

KOLCHAK E GUARÁ

Dois atores que eu gosto muito se foram, um que eu conheço há 25 anos, outro que eu havia acabado de ver... Darren McGavin, o Kolchak da série clássica, faleceu aos 83 anos. Quem tem a minha idade(33) ou é um pouco mais velho provavelmente teve uma infância mais feliz ao ver os filmes e a série de TV de Kolchak, o repórter abelhudo que descobria zumbis, vampiros, lobisomens e estranguladores na noite da Chicago dos anos 70. Eu já estranhei quando ele precisou aparecer em imagens de arquivo na refilmagem da série que foi feita esse ano (e é melhor do que lhe dão crédito, melhorou muito depois de um piloto ruim). A série durou apenas uma temporada, mas seus fãs se inspiraram e usaram esse mesmo tipo de personagem por anos. O que é Mulder senão um Kolchak mais moço e menos resinguento, que não briga tanto com seu chefe? Já Guará era um veterano do cinema underground, que havia acabado de fazer um papel estupendo em Um Lobisomem na Amazônia, o ajudante de Paul Naschy. Como eu já disse outra vez, não curto transformar meu pobre blog num obituário, mas é necessário registrar quando meus heróis passam para o outro lado...

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