25.6.06

RANKING ANOS 70

A pedido da Liga dos Blogues Cinematográficos elaborei um ranking de 20 grandes filmes dos anos 70 (mês passado teve um ranking dos anos 80, mas como eu estava atolado de trabalho não pude participar). Eu sempre me complico nessas listas, afinal quero incluir sempre um número muito maior de filmes/ músicas/ livros que ela comporta, mas desta vez me segurei e deixei só 20 mesmo. Para não me complicar coloquei só um filme por diretor, senão ia virar uma confusão, e provavelmente quando for dormir vou lembrar de uns 20 ou 30 filmes que esqueci na hora. Sem mais, vou colocar aqui os 20 filmes que eu escolhi, e um pequeno comentário sobre cada um deles.

Os Demônios (1973) – Ken Russel - Cinema como ele não é mais: provocativo, instigante, psicodélico. Melhor momento na carreira de todos os envolvidos. Uma pena que não pude colocar mais um de meus filmes favoritos, 'Tommy', por ter incluído este.

Cães Raivosos (1974) – Mario Bava - Obra prima tardia de Bava. Exercício de cinema claustrofóbico. Dos 85 minutos do filme, pelo menos 70 se passar em um carro em movimento. Ocupa um lugar que poderia ter sido de 'Lisa e o Diabo', a outra obra-prima setentista de Bava.

Performance (1970) – Donald Cammel e Nicholas Roeg - Um filme desses só podia ter sido feito nos anos 70. Labiríntico, erótico, agressivo. Ocupa um lugar que poderia ter sido do genial (mas não tão bom quanto esse) 'Inverno de Sangue em Veneza'.

Suspiria (1976) – Dario Argento - Obra prima do horror europeu. Nada mais precisa ser falado. De Argento eu também poderia ter colocado 'Profondo Rosso' ou 'Inferno'.

Sob o Domínio do Medo (1971) – Sam Peckinpah - Ultra tenso exercício em claustrofobia e como alguém vai se reprimindo até... De Peckinpah eu também poderia ter colocado 'Pat Garret & Billy the Kid' e 'Cruz de Ferro'.

A Montanha Sagrada (1973) – Alexandro Jodorowski - Um filme único, uma experiência mística, um festival de excessos. Lindo.

O Homem de Palha (1973) - Robin Hardy - O requiem do horror inglês. Um belo canto de cisne. Podia ser também 'Capitão Kronos' ou 'Frankenstein e o Monstro do Inferno', da Hammer, mas esse é mais representativo do estilo.

Manhattan (1979) – Woody Allen - Um dos primeiros cineastas que admirei, em um de seus melhores filmes.

Escravas do Desejo (1971) – Harry Khummel - Impressionante antifilme de vampiro, opus de lesbianismo. Um filme de horror feito por um diretor que odeia o gênero, e fica o tempo inteiro sabotando-o.

As Filhas do Fogo (1978) – Walter Hugo Khoury - Eu me concentrei mais em filmes 'estrangeiros', porém escolhi esse aqui para representar o cinema brasilis. Uma rara obra espírita que não cai nas pregações charopes. Um exercício de montagem. Uma obra prima que necessita urgentemente ser restaurada.

O Poderoso Chefão (1972) – Francis Ford Coppola - Obra-prima. Representa o que havia de bom no cinema mainstream dos anos 70. É tão bom quanto as continuações, mas só ele está aqui.

A Laranja Mecânica (1971) – Stanley Kubrick - Atrevido e perverso.

La Bete (1975) – Walerian Borowczic - Um conto de fadas perverso. Desse diretor eu podia ter colocado 'Contos Imorais' ou 'La Marge', que são tão bons quanto.

Ganja & Hess (1973) – Bill Gunn - No meio do ciclo do blaxpoitation, um diretor que também era poeta faz um dos filmes de vampiro mais enigmáticos e labirínticos da história do cinema. Precisa ser visto umas cinco vezes para começar a fazer sentido. Deixa David Lynch parecendo um exemplo de lógica coerente.

Zumbi – O Despertar dos Mortos (1978) – George Romero - Cinema de horror como crítica social.

Torso (1973) – Sergio Martino - O giallo em seu lado mais safado, com um diretor que sempre soube trabalhar no gênero.

Don’t torture a duckling (1972) – Lucio Fulci - Indicado para aqueles que dizem que Lucio Fulci é incapaz de contar uma história sem apelar para a sangreira gratuita.Filme sensível e sutil, sobre um assassino de crianças na Sicília rural.

A Casa com janelas que riem (1976) – Pupi Avati - Horror inteligente e classudo, de um diretor cujo único defeito é fazer poucos filmes do gênero.

Wampyres (1974) – Jose Ramon Larraz - Exploitation sem vergonha e pudor. Quem precisa de lógica?

Keoma (1976) – Enzo Castellari - Canto de cisne do spaghetti western, um filme místico e viajante.


19.6.06

HERMANOS

Quando eu li o livro 'Mondo Macabro', de Pete Tombs, pensei que seria fácil encontrar os filmes argentinos ali descritos. Santa decepção, Batman!!! Somente hoje, meia década depois, consegui o primeiro deles, mesmo assim (mal) dublado em inglês. Mas a espera valeu, pois 'La Venganza del Sexo', lançado na Gringolândia como 'The Curious Dr. Humpp', é SENSACIONAL.

Resumindo uma história muito confusa, trata-se da investigação de uma série de desaparecimentos de jovens hippies, que está sendo feita por um cientista louco que está criando um exército de zumbis (!!!) sob o comando do cérebro de um carrasco nazista refugiado por lá (!!?!!).

O que fica muito bacana é a maneira que a história é contada. O primeiro diálogo é pronunciado a exatos 16 minutos. Até lá há uma bela duma infinidade de cenas de sexo, incluindo uma longa cena lésbica com uma hermana não depilada (frase dita por Cristian Verardi: olha a Floresta Amazônica ali!!). Fica difícil descobrir o quanto destas cenas são da versão original e quantas foram inseridas pelo distribuidor gringo (afinal a versão original é descrita como trendo 73 minutos, e a disponível aqui tem 92), mas fica clara a habilidade de Vieyra (descrito pelo IMDB como sendo ainda vivo, aos 83 anos, com um crédito de 2005). Eu estou procurando ainda os outros filmes de Vieyra, assim como PELO MENOS 'Obras Maestras del Horror'. Se alguém souver aonde eu posso achar fico grato...


VIGILANTE

Esse foi o 'Raros' desta sexta... o filme que é o último dos moicanos. Um dos últimos thrillers policiais com trilha rocker sem influência da MTV, um dos últimos filmes não pornográficos lançados em vários cinemas nos EUA com censura 'Unrated', um dos últimos grandes filmes feitos para as 'grindhouses' (cinemas de bairro especializados em filmes de ação) sem levar em conta o mercado de vídeo. O que torna essa produção ainda mais rara é que não é uma imitação de 'Desejo de Matar', e sim um tributo aos thrillers policiais italianos dos anos 70. Isso fica claro pela trilha (soando como se tivesse sido feita por Riz Ortolani), pela maneira como os gangsters se movem (uma execução de um policial lembra muito uma ação da Cosa Nostra, não de uma gangue novaiorquina) e até as atuações (Robert Foster lembra muito os personagens vividos por Franco Nero ou Maurizio Merli nas produções de Enzo Castellari e Sergio Sollima).
Na primeira vez que eu vi (ainda em Livramento, quando saiu em vídeo em algum momento dos anos 80) achei que o clima estava mais para um western que para um filme policial... impressão que acabou confirmada pela aparição surpresa de Woody Strode, que tantas vezes trabalhou com John Wayne. Só mesmo num western os bandidos são tão bandidos quanto aqui, e os 'heróis' podem agir como se fossem os xerifes da cidade, levando a lei na marra. Aliás, um pequeno adendo: em qual BOM thriller policial a gente ficou com pena dos bandidos, vendo-os como vítimas das mazelas da sociedade? 'Crash' e 'Traffic' não se encaixam nessa deascrição, né? Essa explicação pode funcionar na sociologia, filosoficamente, mas não num thriller de ação, cujo momento culminante (assim como num western 'clássico') deve ser quando o bandido tem seu corpo perfurado pelas balas do herói. Uma das coisas que o filme funciona tão bem é essa falta de vergonha, essa 'coragem' (nesses tempos politicamente corretos) de assumir uma atitude próxima da canalhice para fazer seu filme funcionar.

É legal notar também várias atitudes típicas do 'cinema de guerrilha'. Como a cidade de Nova York se recusou a deixar William Lustig rodar sua produção em suas ruas, ele rodou muitas cenas nas cidades vizinhas e algumas cenas na base do 'pega a câmera e sai filmando', o que deixa tudo num clima urgente. Muito bacana. Um filme a ser (re) descoberto.

PS: Nessa sexta, 'O Túmulo Vazio ' (Body Snatcher), de Robert Wise, com as sempre adoráveis presenças de Boris Karloff e Bela Lugosi, por sinal em sua última parceria. Antes da exibição eu posto algum comentário...

PS2: Esse magnífico Blogger não está me deixando carregar figuras. Alguém sabe o que devo fazer?

9.6.06

A NOVA PROFECIA

A refilmagem de ‘A Profecia’ despertava curiosidade desde que foi anunciada. Principalmente para aqueles da minha geração, que tiveram a sua infância assombrada pelas imagens do filme original.

A maior virtude do filme é também sua maior grande deficiência: fidelidade total com o original. Trata-se de uma refilmagem ao estilo ‘Psicose’, ou seja, mesmos diálogos do original, cenas iguais. Se tanto faz-se referências ao 11 de setembro e ao maremoto na Ásia como sendo sinais do apocalipse... não é uma desecração do filme original (como ‘A Casa Amaldiçoada’ é para ‘Desafio do Além’), vai funcionar com as pessoas que não viram o filme dos anos 70. É difícil saber se os susto funcionam para quem viu o filme sem ter visto o original, pois eu já sabia exatamente o que ia acontecer, sempre, logo isso estragou o elemento surpresa para mim.

Quanto ao elenco... por mais que hajam vários acertos entre os coadjuvantes (Mia Farrow, assustadora, e Giovanni Lombardo Radice, com sua cara de maluco, dos filmes de Michele Soavi), os dois protagonistas são de lascar. Liev Schrieber (deve ser assim que se escreve, estou com preguiça de pesquisar) é um zero à esquerda, ainda mais se o compararmos com Gregory Peck do filme original. Julia Stiles (infelizmente vestida o tempo todo) aceitou o papel que foi recusado por várias estrelinhas holliwoodianas, e é outro zero à esquerda. Essa é a Hollywood de hoje protagonistas que são um pouco mais que adolescentes, e não tem estofo para segurar um filme desses.

OS NOVOS EXORCISTAS

Graças ao milagre da internet consegui a versão ‘alternativa/original’ de ‘O Exorcista IV’, a dirigida por Paul Schrader. A história é conhecida: Paul Schrader dirigiu o filme, exibiu-o para o estúdio, e este não gostou e convocou Renny Harlin para fazer outro filme totalmente diferente. Claro que é melhor que a ‘canônica’, difícil não ser, mas muita coisa que estava errada lá já estava errada aqui. O roteiro, que se fixa no padre Merrin (não em Pazuzu, como na versão lançada) continua a ter mais buracos que um queijo suíço. Em resumo, é assistível, dá pra ir até o fim, mas está longe de ser grande coisa.


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