28.4.06

FOI DEUS QUE MANDOU

Taí um filme que eu queria ver havia alguns anos... Larry Cohen sempre foi talentoso, seja como diretor('Nasce um Monstro' e 'A Coisa' que o digam), seja como roteirista (o clássico 'Maniac Cop' e os novos 'Celular' e 'Por um Fio' não me deixam mentir). Faz roteiros claros e precisos, e filma sem grandes firulas, mas com uma bela noção de colocação da câmera, sabendo o que mostrar (e o que esconder, que é quase tão importante como). Como ia dizendo, nunca tinha achado 'Foi Deus quem mandou'... até agora, que o lançamento nacional ajudou. Puta filme, meu!!! Bem dirigido, bem bolado, conta uma história surpreendentemente 'pretensiosa' (mas sem tirar os pés do chão), encaixando-a em seu estilo 'cinema verité' de rodar (quase tudo com câmera na mão, rodado em locação na cidade de Nova York com alguns interiores rodados em Londres). Não gostaria de ser sem-graça e entregar alguns pontos do roteiro, mas o mesmo é inteligente e bem sacado, com excelentes pitadas de horror católico, algo que raramente funciona. Como curiosidade, conta com a presença do comediante Andy Kaufmann (num papel sério e marcante), aquele cuja vida foi retratada no (sensacional) filme 'Man on the Moon', que é o motivo que eu nunca mais falei mal de Jim Carrey. Em resumo, belíssimo serviço prestado pela distribuidora, a mesma que lançou 'Driller Killer' e 'O Pássaro com Plumas de Cristal', uma rara distribuidora independente que não pertence ao 'Clube do Capitão Gancho', como o Leandro Caraça chama a 'rede' da Continental Filmes.

HPE

Falando em horror católico... eis um filme sensacional nesse aspecto. 'Hardcore Poisoned Eyes' tinha tudo para ser mais uma das picaretagens rodadas em video digital que vem inundando o mercado de vídeo, mas alguns 'pequenos' detalhes impedem isso. Trata-se da secagésima pentelhésima variação em cima de 'A Noite dos Mortos Vivos', com o 'pequeno' detalhe que, ao invés de zumbis, um grupo de pessoas (nesse caso três garotas) são cercadas por um bando de satanistas. O que torna o filme interessante é o roteiro, muito bem sacado, que centra toda a história no dilema das meninas, entre permanecerem puras num mundo sujo ou 'juntarem-se à imundice' e provar que o mal existe. Há uma profunda ironia (e isso torna o filme assustador e sutil ao mesmo tempo), afinal as meninas não conseguem achar refúgio ou respostas em sua fé, enquanto os satanistas são movidos pela mesma ... tudo isso, como eu já disse, rodado em vídeo digital, em dez dias, nos arredores de Nova York, com elenco recrutado em escolas de teatro. Uma verdadeira aula de cinema de guerrilha. Infelizmente esse filme foi rodado em 2000 e desde lá seu diretor, Sal Ciavarello, não fez mais nada.

14.4.06

HOSTEL - O ALBERGUE

Muitos elogios (e críticas) estão sendo feitos ao segundo longa de Eli Roth... e quase todos eles estão deixando passar batidos algumas das melhores qualidades desse admirável thriller de horror. Nesse momento, muito se está discutindo a intensidade de algumas cenas de violência, os fãs de horror encantados, alguns críticos (um deles, em especial, deveria locar 'Branca de Neve' ou 'A Noviça Rebelde' se quer ver obras com mensagens edificantes) furiosos com o que descrevem como 'perversão moral' do diretor e do público (saudável mesmo deve ser um filme sobre crianças que perdem seu chinelinho e tem que achar ou vão apanhar do pai, ou de médicos à procura da cura do câncer e choram quando seus pacientes morrem)... estão deixando passar batido a habilidade do diretor. Não li nenhum comentário notando, por exemplo, que em todo seu primeiro ato parece que estamos vendo uma comédia no estilo 'American Pie', de adolescentes (bem, nem tão adolescentes assim) soltos na Europa desejando transar e fumar maconha, que são levados para a distante Bratislawa, na Eslováquia (valeu pela correção), para, digamos, ter uma overdose de sexo com as meninas locais, que seriam fanáticas por turistas. Nada de heroizinhos, nada de bastiões da moral falando sobre filosofia e religião comparada e lamentando a ausência da amada, são pessoas normais, vulgares, sem grandes qualidades redentoras (nessa crítica que eu estou mencionando, o cabra chega a reclamar que os 'heróis' são 'americanos comuns'. Isso não os torna mais 'normais' e não acaba funcionando a favor da história?). Quem já tinha visto os filmes do Rocco na Iuguslávia, Eslovênia e arredores pode ter uma idéia do material feminino à mostra por aqui. Há alguns anos eu não via um filme não pornográfico com tantos 'tits and asses'. A virada, quando tudo se transforma num sádico filme de horror, é a mais brusca que temos notícia desde 'Um Drink no Inferno', que eu uma cena se metamorfoseia de um drama sociológico de crime num filme de vampiros. Aliás, dava para dizer que aqui essa virada é ainda mais brusca e bem feita, por ser entre gêneros ainda mais díspares. Ponto para Roth. Outro ponto a favor dele é a ambientação: está longe de ser o primeiro filme rodado atrás da (antiga) cortina de ferro, mas é um dos primeiros a fazer (bom) uso da 'cor local'. Bratislawa, que nas imagens do filme me lembrou as cidadezinhas do interior gaúcho e catarinense colonizadas por alemães e/ou italianos (tipo Gramado, Canela, Lajes ou Bento Gonçalves), tem uma aura sombria, opressora, muito bem captada. As próprias pessoas tem uma cara esquisita, você olha prá algumas figuras e já imagina que se trata de algum tipo de tarado ou coisa parecida... a história (que só pode ser considerada original por quem não conhece, por exemplo, 'Zaroff, o Caçador de Almas', do logínquo 1932) é muito bem contada, sem grandes concessões ao público incapaz de contar dois mais dois mentalmente (ou seja, não ficam recapitulando toda hora o que está acontecendo, para 'explicar' aos distraídos), tudo vai se desenrolando sem grandes atropelos. E as cenas de gore e tensão... são muito bem levadas. Aliás, pelos comentários que rolaram eu estava esperando mais sangue escorrendo, ponto para Roth se ele faz as pessoas acreditarem que tudo é mais sangrento do que é mesmo. E o diabo ainda cita um dos melhores filmes dos últimos anos, 'Suicide Club', e conta com uma (hilariante) ponta de Takeshi Miike como turista... em resumo, um filme atrevido, que cumpre com folgas o que promete (ser um belo filme de horror setentista). Não é uma obra-prima como 'Haute Tension', mas confirma Roth como uma realidade, não mais como uma promessa. Esperamos seus próximos filmes!!!

PS: O Felipe Guerra me chama atenção que a sua resenha no Boca do Inferno não caiu nas armadilhas citadas por mim no início da matéria, tendo chamado a atenção para mais ou menos os mesmos detalhes que eu, com uma semana de antecedência. O que eu posso fazer além de confessar que não tinha lido essa resenha? Vivendo e aprendendo...

7.4.06

Os 80 anos de Corman

Há vários Roger Cormans para celebrarmos em seu 80º aniversário. Vamos relembrar:

O Produtor

Corman provou que era possível fazer filmes inteligentes com baixo orçamento. Quase todas as produções ligadas a Corman (principalmente nos tempos de AIP e New World Pictures) eram vivas e divertidas (compensavam alguns defeitos técnicos com tesão e vontade, como tem que ser), e eram feitos com orçamentos que mal pagavam o salário de um astro na concorrência. Várias práticas que depois se tornariam comuns (rodar dois ou três filmes seguidos com o mesmo elenco, nos mesmos cenários e locações) começaram a ser empregados por Corman. Outras práticas que já existiam foram transformadas em arte, como ‘reaproveitar’ cenas de filmes anteriores. O melhor exemplo disso é ‘Targets: Na mira da morte’, de Peter Bogdanovich, em que quase 20 minutos (dos 80 de projeção) são ´reutilizados’... em ‘Hollywood Boulevard’, de Joe Dante e Alan Arkush, há 30 minutos de cenas novas em 80 de projeção (o resto é ‘reaproveitado’ de produções anteriores da New World Pictures, que os dois diretores, que então trabalhavam no setor de trailers da produtora, conheciam bem). Suas produções de orçamento (próximo de) zero também eram suntuosas, comparando com produtoras conhecidas pelas mesmas práticas, como a Monogram e mesmo a RKO.


O Diretor

Corman foi um diretor sensacional. Seus filmes inspirados pela obra de Edgar Allan Poe são pioneiros no uso da psicologia das cores como elemento de horror. Estão também entre os primeiros filmes americanos coloridos de horror, produções suntuosas numa época em que o horror era um fenômeno de filmes de baixo orçamento nos EUA. No iníco dos anos 60, realiza o corajoso 'Intruder', sobre racismo, tocando em feridas pouco exploradas em sua época. No final dos anos 60, ele se alia à contracultura, em filmes como 'Os Anjos Selvagens' e 'Viagem ao Mundo da Alucinação'.


O descobridos de talentos

Poderia ficar nos óbvios... Nicholson, Scorcese, Coppola, Demme, Bogdanovich (na foto com Boris Karloff no set de 'Targets - Na Mira da Morte'), Monte Hellman, Robert Towne, Joe Dante, Alan Arkush, Jack Hill... ele também 'importou' profissionais tarimbados como o cubano Nestor Almendros e o sueco Vilmos Zsigmond (dois diretores de fotografia que seriam oscarizados, em trabalhos que conseguiram após serem revelados por Corman ao mercado americano), e soube reconhecer talentos (como James Cameron, que entrou em 'Galáxia do Terror' como carpinteiro e saiu como diretor de segunda unidade e desenhista de produção).


O importador

Corman foi responsável pelo lançamento internacional de filmes importantes, como 'Morangos Silvestres', de Igmar Bergman, e 'Dersu Uzala', de Akira Kurosawa, lançados nos EUA (e no resto do mundo, por consequência) fora do gueto dos 'filmes de arte' , expostos a espectadores que nunca ouviriam falar deles.

Por esse e tantos outros motivos (as centenas - literalmente - de filmes que só saíram do papel por terem cruzado o seu caminho, seu discreto e competente trabalho como ator nos filmes de seus pupilos, tipo 'O Poderoso Chefão 2' e 'O Silêncio dos Inocentes', sua sempre sábia colaboração com roteiristas tarimbados, como Richard Matheson e Robert Towne), os 80 anos de Roger Corman devem ser comemorados por todos entre nós que curtimos cinema.

5.4.06

CELEBRANDO OS 80 ANOS DE ROGER CORMAN

Olhando o blog de Tim Lucas, editor da revista Video Watchdog, descubro que hoje é o dia do 80º aniversário de Roger Corman... como não tenho tempo de criar um texto decente em sua homenagem (não hoje, talvez no final de semana), reproduzo a homenagem de meu colega, dando o autor e dizendo de onde tirei a mesma (http://www.videowatchdog.blogspot.com/). De noite pretendo traduzir esse poema/letra de música...

ROGER CORMAN SWINGS (at 80)
Lyrics by Tim Lucas(with apologies to Roger Miller)

Roger Corman swings like a pendulum do,
Vincent Price, Bruce Dern -- Shatner too!
Mobsters in Chicago, Richtofen and Brown,
Stock footage of a warehouse burning down.

Now, if you huff and puff and you finally shoot enough
You can make a whole movie in just two days, believe you me.
But here's a tip: before you take a trip, go up to Big Sur,
It's so pretty thur, oh...

Roger Corman swings like a pendulum do,
Dick Miller, Susan Cabot -- Dinocroc too!
See the Wild Angels go to Rock and Roll High,
Ray Milland rippin' out his X-ray eyes.

Now get your cameras ready, everybody go dutch,
Hang onto your wallet, we don't letting you spend too much
Add a social message, some boob shots, mind expenses
And no novocaine -- because it dulls the senses.

(OWWWWWW! Don't stop NOW!!!!!)

Roger Corman swings like a pendulum do,
They buried Babs alive and it's True! True! True!
Charles Dexter Ward and a sub-machine gun,
The rosy red cheeks of Angie Dickinson.

FELIZ ANIVERSÁRIO, ROGER!

This page is powered by Blogger. Isn't yours?