14.4.06
Muitos elogios (e críticas) estão sendo feitos ao segundo longa de Eli Roth... e quase todos eles estão deixando passar batidos algumas das melhores qualidades desse admirável thriller de horror. Nesse momento, muito se está discutindo a intensidade de algumas cenas de violência, os fãs de horror encantados, alguns críticos (um deles, em especial, deveria locar 'Branca de Neve' ou 'A Noviça Rebelde' se quer ver obras com mensagens edificantes) furiosos com o que descrevem como 'perversão moral' do diretor e do público (saudável mesmo deve ser um filme sobre crianças que perdem seu chinelinho e tem que achar ou vão apanhar do pai, ou de médicos à procura da cura do câncer e choram quando seus pacientes morrem)... estão deixando passar batido a habilidade do diretor. Não li nenhum comentário notando, por exemplo, que em todo seu primeiro ato parece que estamos vendo uma comédia no estilo 'American Pie', de adolescentes (bem, nem tão adolescentes assim) soltos na Europa desejando transar e fumar maconha, que são levados para a distante Bratislawa, na Eslováquia (valeu pela correção), para, digamos, ter uma overdose de sexo com as meninas locais, que seriam fanáticas por turistas. Nada de heroizinhos, nada de bastiões da moral falando sobre filosofia e religião comparada e lamentando a ausência da amada, são pessoas normais, vulgares, sem grandes qualidades redentoras (nessa crítica que eu estou mencionando, o cabra chega a reclamar que os 'heróis' são 'americanos comuns'. Isso não os torna mais 'normais' e não acaba funcionando a favor da história?). Quem já tinha visto os filmes do Rocco na Iuguslávia, Eslovênia e arredores pode ter uma idéia do material feminino à mostra por aqui. Há alguns anos eu não via um filme não pornográfico com tantos 'tits and asses'. A virada, quando tudo se transforma num sádico filme de horror, é a mais brusca que temos notícia desde 'Um Drink no Inferno', que eu uma cena se metamorfoseia de um drama sociológico de crime num filme de vampiros. Aliás, dava para dizer que aqui essa virada é ainda mais brusca e bem feita, por ser entre gêneros ainda mais díspares. Ponto para Roth.
Outro ponto a favor dele é a ambientação: está longe de ser o primeiro filme rodado atrás da (antiga) cortina de ferro, mas é um dos primeiros a fazer (bom) uso da 'cor local'. Bratislawa, que nas imagens do filme me lembrou as cidadezinhas do interior gaúcho e catarinense colonizadas por alemães e/ou italianos (tipo Gramado, Canela, Lajes ou Bento Gonçalves), tem uma aura sombria, opressora, muito bem captada. As próprias pessoas tem uma cara esquisita, você olha prá algumas figuras e já imagina que se trata de algum tipo de tarado ou coisa parecida... a história (que só pode ser considerada original por quem não conhece, por exemplo, 'Zaroff, o Caçador de Almas', do logínquo 1932) é muito bem contada, sem grandes concessões ao público incapaz de contar dois mais dois mentalmente (ou seja, não ficam recapitulando toda hora o que está acontecendo, para 'explicar' aos distraídos), tudo vai se desenrolando sem grandes atropelos. E as cenas de gore e tensão... são muito bem levadas. Aliás, pelos comentários que rolaram eu estava esperando mais sangue escorrendo, ponto para Roth se ele faz as pessoas acreditarem que tudo é mais sangrento do que é mesmo. E o diabo ainda cita um dos melhores filmes dos últimos anos, 'Suicide Club', e conta com uma (hilariante) ponta de Takeshi Miike como turista... em resumo, um filme atrevido, que cumpre com folgas o que promete (ser um belo filme de horror setentista). Não é uma obra-prima como 'Haute Tension', mas confirma Roth como uma realidade, não mais como uma promessa. Esperamos seus próximos filmes!!!
As vezes tenho a impressão de q. se alguns comentam filmes sobre a influência da "Cahiers du Cinema", outros acabam agindo da mesma sobre a influência da "Fangoria" ou o q. quer q. seja.
Estou sendo um pouco duro contigo Leandro, pq. RESPEITO muito sua escrita e salvo engano, acredito q. vc. dará 'sangue novo' a crítica brasileira, ao contrário do meu caso q. escrevo como forma de trocar/compartilhar idéias mas com o principal objetivo de realizar filmes. Enfim, eu não acho q. pq. faço filmes entendo mais q. os outros, mas posso dizer q. "Crocodilo" tem no mínimo 03 ou 04 gdes cenas, e isso não é pouca coisa.
<< Home