15.10.06

Primeiro, o sensacional livro de James Ellroy poderá ser vendido para outros cineastas o filmarem, de preferência como uma minissérie, que poderá fazer justiça à sua complexidade. Se o método de avaliação for 'fazer justiça ao livro', provavelmente a nota a ser dada será a bola preta.
Se não seguiu o livro, o que de Palma fez, então? Uma refilmagem noir de 'Dublê de Corpo'. Confuso (como são todos os noir clássicos, leia-se Chandler e Hammet), cheio de buracos de roteiro, com uma resolução 'corrida' e apressada, mas com várias cenas antológicas, e dezenas de referências a obras queridas do diretor. No melhor plano do filme, quando a câmera 'pula' por cima de um prédio, temos uma linda citação a 'Tenebre', de Argento, diretor que também tem citados 'Prelúdio para Matar' e 'Terror na Ópera' (este através dos corvos, onipresentes) citados visualmente. Aliás, uma de minhas obras de cabeceira, 'O Homem que Ri', é usada na resolução...
Uma boa parte dos problemas é causada por escolhas infelizes de elenco. Hillary Schwank é ótima atriz, mas para fazer mulheres de sexualidade ambígua, não uma femme fatale, de quem se exige femininidade e graça. Ninguém vai me fazer entender por que Mia Kirschner não fez papel duplo, ela é uma das coisas que faz tudo funcionar (em especial no stag movie, em que ela é 'introduzida' pela outra atriz) ... o Aguilar (que não gostou do filme, respeito sua opinião apesar de não concordar com ela) sugere uma inversão dos papéis masculinos, que poderia funcionar... a produção da Nu Image não ajuda, afinal dá-se todas as pistas de uma montagem apressada, com várias cenas importantes cortadas (pesquisando, vejo de Palma falando de uma primeira versão de três horas, que eu imagino que faça mais sentido).
Mas quanto às qualidades... há muito tempo não via tantas grandes cenas no mesmo filme, duas delas com Scarlett Johansson (quando Josh Harnett vê a 'marca' do meliante nela e uma tórrida cena de sexo). Como fã de giallo, nada tenho contra obras construídas a partir de grandes cenas, interligadas de maneira confusa e/ou pouco intelegível. Tudo é ajudado pela ótima trilha sonora (quem é o trumpetista?). Em resumo, é fácil ficar do lado de obras-primas inquestionáveis, difícil mesmo é tentar entender obras tortas como essa. Escolhi meu lado, fiquei encantado com o filme, fico do lado dele.
(foto roubada do blog do Leandro Caraça - ele não deve se importar)

se dispondo a usar roupa somente se a cena assim o exigisse. Uma espécie de 'complexo de Roman Polanski', com o cunhado (ou o diretor contratado, no caso do terceiro filme citado, que era Giuliano Carmineo) exibindo a mulher do produtor sob todos os ângulos, como se ele quisesse dizer ao público: gostou? é minha!!!!
Caso ela fosse ao fórum de discussões Mobius ela ia ficar muito orgulhosa com os comentários sobre a sua pessoa. Faço meu um deles: não trocava ela, com 57 anos, por muita gatinha de 20.
3.10.06
'MEME'
UM FILME QUE EU VI MAIS DE UMA VEZ: Vários. Como diz meu amigo Edu Aguilar, o que vale a pena não é ver, é rever. Tem filmes que eu faço questão de ver uma vez de seis em seis meses, tipo ‘O Poderoso Chefão’ (a triologia), ‘Três Homens em Conflito’, ‘Era uma vez no Oeste’, ‘As Três Faces do Medo’... quando eu penso que o cinema não tem jeito, revê-los me dá uma nova fé nessa arte.
UM FILME QUE EU LEVARIA PARA UMA ILHA DESERTA: Tommy. Filme e música fascinantes. Não ia me cansar tão cedo. Mas será que eu teria DVD numa ilha deserta? Sei não...
UM FILME QUE ME FEZ RIR: Banzé no Oeste. Arsenic and Old Lace. Quase tudo dos Irmãos Marx e de Buster Keaton. Apertem os cintos, o piloto sumiu. Quanto mais quente melhor. Paro por aqui...
UM FILME QUE ME FEZ CHORAR: Spartacus. Vi no cinema com dez anos.
UM FILME QUE EU QUERIA QUE NÃO TIVESSE SIDO FEITO: Forrest Gump. A glorificação do idiota sendo premiada e tratada com grande arte. A prova que qualquer idiotice pode ser tratada como grande cinema.
UM FILME QUE EU TENHO PARA VER: Vários. Desde que foi possível baixar filmes pela internet eu tenho sempre uma respeitável pilha de CDs olhando pra mim, me dizendo ‘vem me ver, não se esqueça de mim...’. Tenho também os DVDs da ‘Legacy Collection’ da Universal, cada um com uns dez filmes, esperando o feriado certo pra mim fazer uma longa sessão. Já fiz com Dracula e Frankenstein, agora o Lobisomem, a Múmia e o Homem Invisível me esperam.
UM FILME QUE EU VI HÁ POUCO TEMPO: Judex, o francês de 1917. No cinema, o último que eu vi foi 'United 93', de Paul Greengrass. Ótimo.
UM FILME QUE EU QUERIA TER FEITO: É difícil, pois não sou cineasta, e sim escrevo sobre cinema... ‘Kwaidan’? 'O Poderoso Chefão'? 'O Estranho Mundo de Zé do Caixão'? 'Bangue Bangue'?
PS: Como diria Spock, longa vida e prosperidade para a revista digital Zingu, do Mateus Trunk, da 'turma' do Carrard e do Aguilar