26.3.06

O DIA DOS ESPÍRITOS


Uma das coisas boas do 'estouro' de 'O Chamado' é que possibilitou o lançamento de várias produções do Oriente que, de outra forma, provavelmente não seriam vistas por nós... afinal, o 'boom' do cinema oriental de horror não começou com a versão oriental de 'O Chamado', e sim com os filmes de Kiyoshi Kurosawa, no início dos anos 90... e o bom é que estamos vendo filmes bem direrentes uns dos outros, não trinta variações com telefonemas, poços e meninas chamadas Sadako.

'Espíritos' é uma produção tailandesa... eu 'conhecia' a Tailândia de outros filmes orientais, como o sensacional 'A Herança' e o mais underground 'The Eternal Evil of Asia', como uma espécie de Transilvânia da Ásia, terra de superstições, bruxarias e macumbas. Aqui, a 'visão local' desmente essa teoria. Comprova também uma tese de Pete Tombs, que se conhece mais uma região pelos filmes de gênero feitos por lá do que pelos artísticos, que tendem a seguir o padrão nouvellevaguiano.

Trata-se de mais uma história de fantasmas (obcessão da cultura budista local)... para ser mais específico, de um encosto (não vou entregar nada da história do filme, mas eu fico com medo de algum pastor da Igreja Universal ver o filme e dizer que resolvia a história com uma sessão de descarrego). Resumindo (até demais), o fantasma de uma mulher começa a aparecer em algumas fotos tiradas por um fotógrafo profissional, e ele resolve investigar, com a ajuda da namorada, quem é essa mulher que está tão interessada se mostrar para ele, o que ela pode ter aprontado que tanto a marcou. Digamos que as descobertas não são nada generosas com ele...

Não se trata de uma produção perfeita... achei o terceiro ato um pouco estabanado, com informações demais. Também achei (assim como o Aguilar) que há um pouco de ênfase demais nas relação dos dois personagens principais... mas, vejam só, que raridade reclamar que um filme tem roteiro demais hoje em dia, o normal tem sido reclamar de filmes com roteiro de menos. Isso não diminui o impacto de 'Os Espíritos': poucos filmes nos últimos tempos deixaram tantas imagens e cenas grudadas em minha cabeça. Há momentos simplesmente tétricos. As pessoas que estavam no cinema comigo parecem concordar:há muito tempo eu não via tantos gritos e reações nervosas das meninas da platéia. Todo mundo começou dando risada, achando engraçada a língua (que soa, para meus ouvidos pouco educados ao tailandês, como se fosse um tátátátátá incessante), com os nomes (um rapaz na minha frente, levado à força pela namorada, se deliciou com o nome de dois personagens do filme, Tum e Tom) e com o tom de voz anasalado da protagonista (que soa esquisito mesmo). Foi só a fantasma começar a aparecer, e as fotos (reais) de fantasmas serem mostradas, que o gritedo começou. Uma cena em especial foi impressionante: envolve um estúdio fotográfico, luzes apagadas e um flash. Eu contei umas seis meninas, em pontos diferentes do cinema, berrando. Mesmo os marmanjos ficaram super nervosos. Posso me enganar, mas não via essa reação de platéia há um bom tempo.

Há alguns anos, as produções de mercados secundários se caracterizavam por um nível técnico abaixo da crítica. Isso não ocorre mais. Toda a parte técnica de 'Espíritos' é louvável, em especial a fotografia. Tudo foi captado em filme asa 400, aquele que tem sido usado por Steven Spielberg (e o 'garoto propaganda' desse tipo de película, Janusz Kaminski) desde 'O Resgate do Soldado Ryan'. Esse tipo de película é mais realista, mas tem pouco contraste (ao contrário da película 'normal'), deixando a imagem granulada. Isso é utilizado de forma exemplar pelo cinematografista. Os pretos, além de escuros, parecem se desmanchar. Toda a textura do filme é assim. De acordo com a nem sempre confiável IMDB, trata-se de uma estréia dos dois diretores creditados. Se for isso mesmo, é impressionante o que eles conseguiram. Trata-de de uma obra segura, com ótima direção de atores, um clima realista (que nem sempre funciona em obras do gênero) e um bicho-papão dos mais assustadores dos últimos anos. Mesmo com as ressalvas que fiz, é uma obra ultra recomendável. Vamos ver se as revisões (que vão ocorrer, sem dúvida) vão ser generosas com essa obra...


Comments:
THOMAZ o SHUTTER é demais mesmo. Não acredito até agora que vi um filme asiático de horror no cinema no Brasil e em distribuição nacional. Espero que filmes da Coréia do Sul venham pelo menos. Do Kiyoshi nunca passou nada no Brasil, até na Argentina e no Uruguai passaram filmes dele ou é fácil de achá-los em locadoras. A catarse da platéia em SHUTTER é forte. Um grupo de meninas atrás de nós dava gritos quase que simultâneos com a atriz. Da Tailâmdia o filme mais recente que vi foi Mal dos Trópicos que é ótimo mas bastante hermético para o grande público.
Que venham mais filmes da Ásia e não as refilmagens norte-americanas. Até mais THOMAZ...
 
Fala Thomaz!! Dei muita risada com o lance da sessão descarrego, é inevitável pensar em um bispo da igreja universal resolvendo o filme no 1.º ato. Sorte a nossa q. a solução budista de cremar não serviu prá coisa alguma - hehehehe.
 
E eu já tava achando que cremar podia resolver...hehehe

Aquele grito da fantasma é de arrepiar tudo quanto é cabelo, hein!
 
Trata-se de um dos filmes mais tétricos que eu vi em muuuuito tempo. E é bacana. Pior é que eu estou com uma bela dor no pescoço;-)))
 
sabe que eu gostei do filme? e a cena dos flashes é ótima, realmente
 
o protagonista é a cara do hique, heheheh.
 
Gostei bastante do filme. Usa todas as fórmulas dos filmes pós-Ringu, mas pela primeira vez me assustou de verdade, principalmente a cena que o Thomaz citou, a dos flashes, que é uma pequena obra-prima dentro do filme. A questão fica sendo, com o sucesso que o filme está demonstrando (foi a segunda maior bilheteria da semana, atrás apenas do filme do Spike Lee) será que lançam mais asiáticos no cinema e, principalmente, será que o impossível pode acontecer e nós termos o primeiro Takashi Miike distribuidos nos cinemas brasileiros com "One Missed Call"?
 
Deu meda como há tempos eu não sentia num filme de terror.

Parabéns pelo belo blog.
 
Fui assistir ao filme somente nessa última segunda feira... acho que não captei o espírito do filme... achei que as cenas "assustadoras" eram anunciadas (como, por exemplo, a hora que a namorada do cara começou a tirar fotos do laboratório, era óbvio que na última o fantasma iria aparecer). Não ouvi gritaria nenhuma... A única reação que eu vi por lá era do casal que estava na mesma fileira que eu, dando uns amassos... na minha opinião não chega aos pés de "O Chamado"
 
Não assisti ao filme ,mas adoro a seção terror/suspense da videolocadora ,eu ia loca mas ,as minhas amigas disseram que tinham muita sanguera e não era legal.
 
Esse filme foi pra mim muito melhor que (O Chamado),foi tão marcante que arrepiou até os cabelos da venta.
Acredito que o nº2 será bem melhor.
As cenas do filme são completamente diferentes desses outros filmes...
enfim adorei fiquei até sem dormir no dia em que assisti,é doido...cê é louco não vejo a hora de ver o outro filme.
PS;MEU NAMORADO EM NENHUM MOMENTO OLHOU PARA A TELA.
FUI....
 
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